sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
NUNCA NEGUE UM PEDAÇO DE PÃO
Esta história nos foi encaminhada há algum tempo, por uma pessoa que acompanha nossas mídias sociais. Solicitou sigilo de sua identidade. Também não sabemos quem é o autor, mas é uma história linda, que merece ser compartilhada!
Ela pode ser também a sua história...
"Passava do meio dia, o cheiro de pão quente invadia aquela rua, um sol
escaldante convidava a todos para um refresco.
Ricardinho
não aguentou o cheiro bom do pão e falou:
-
Pai, tô com fome!!!
O
pai, Agenor, sem ter um tostão no bolso, caminhando desde muito
cedo em busca de um trabalho, olha com os olhos marejados para o filho e pede mais um pouco
de paciência.
-
Mas pai, desde ontem não comemos nada, eu tô com muita fome, pai!
Envergonhado,
triste e humilhado em seu coração de pai, Agenor pede para o filho
aguardar na calçada enquanto entra na padaria a sua frente.
Ao
entrar dirige-se a um homem no balcão:
-
Meu senhor, estou com meu filho de apenas 6 anos na porta, com muita
fome, não tenho nenhum tostão, pois sai cedo para buscar um emprego e
nada encontrei, eu lhe peço que em nome de Jesus me forneça um pão para
que eu possa matar a fome desse menino, em troca posso varrer o chão de
seu estabelecimento, lavar os pratos e copos, ou outro serviço que o
senhor precisar!
Amaro , o dono da padaria estranha aquele homem de semblante calmo e sofrido, pedir comida em troca de trabalho e pede para que ele chame o filho.
Amaro , o dono da padaria estranha aquele homem de semblante calmo e sofrido, pedir comida em troca de trabalho e pede para que ele chame o filho.
Agenor
pega o filho pela mão e apresenta-o a Amaro, que
imediatamente pede que os dois sentem-se junto ao balcão, onde manda
servir dois pratos de comida do famoso PF (Prato Feito) - arroz, feijão,
bife e ovo...
Para
Ricardinho era um sonho, comer após tantas horas na rua. Para
Agenor, uma dor a mais, já que comer aquela comida maravilhosa fazia-o
lembrar-se da esposa e mais dois filhos que ficaram em casa apenas com um
punhado de fubá. Grossas lágrimas desciam dos seus olhos já na primeira garfada.
A
satisfação de ver seu filho devorando aquele prato simples como se fosse
um manjar dos deuses,
lembrança de sua pequena família em casa, foi demais para seu coração tão cansado de mais de 2 anos de desemprego, humilhações e necessidades.
lembrança de sua pequena família em casa, foi demais para seu coração tão cansado de mais de 2 anos de desemprego, humilhações e necessidades.
Amaro
se aproxima de Agenor e percebendo a sua emoção, brinca para
relaxar:
-
Ô Maria, sua comida deve estar muito ruim. Olha o meu amigo está até
chorando de tristeza desse bife, será que é sola de sapato?!?!
Imediatamente,
Agenor sorri e diz que nunca comeu comida tão apetitosa, e que agradecia
a Deus por ter esse prazer.
Amaro
pede então que ele sossegue seu coração, que almoçasse em paz e
depois conversariam sobre trabalho.
Mais
confiante, Agenor enxuga as lágrimas e começa a almoçar, já que sua fome
já estava nas costas.
Após o almoço, Amaro convida Agenor para uma conversa nos fundos da padaria, onde havia um pequeno escritório.
Após o almoço, Amaro convida Agenor para uma conversa nos fundos da padaria, onde havia um pequeno escritório.
Agenor
conta então que há mais de 2 anos havia perdido o emprego e desde então,
sem uma especialidade profissional, sem estudos, ele estava vivendo de
pequenos "biscates aqui e acolá", mas que há 2 meses não
recebia nada.
Amaro
resolve então contratar Agenor para serviços gerais na padaria, e
penalizado, faz para o homem uma cesta básica com alimentos para pelo
menos 15 dias. Agenor
com lágrimas nos olhos agradece a confiança daquele homem e marca para
o dia seguinte seu início no trabalho.
Ao
chegar em casa com toda aquela "fartura", Agenor é um
novo homem - sentia esperanças, sentia que sua vida iria tomar novo
impulso. Deus
estava lhe abrindo mais do que uma porta, era toda uma esperança de dias
melhores.
No dia seguinte, às 5 da manhã, Agenor estava na porta da padaria
ansioso para iniciar seu novo trabalho. Amaro chega logo em seguida e sorri para aquele homem que nem ele
sabia porque estava ajudando. Tinham a mesma idade, 32 anos, e
histórias diferentes, mas algo dentro dele chamava-o para ajudar
aquela pessoa.
E,
ele não se enganou - durante um ano, Agenor foi o mais dedicado
trabalhador daquele estabelecimento, sempre honesto e extremamente zeloso
com seus deveres.
Um
dia, Amaro chama Agenor para uma conversa e fala da escola que
abriu vagas para a alfabetização de adultos um quarteirão acima da
padaria, e que ele fazia questão que Agenor fosse estudar.
Agenor nunca esqueceu seu primeiro dia de aula: a mão trêmula nas primeiras letras e a emoção da primeira carta.
Agenor nunca esqueceu seu primeiro dia de aula: a mão trêmula nas primeiras letras e a emoção da primeira carta.
Doze
anos se passam desde aquele primeiro dia de aula. Vamos
encontrar o Dr. Agenor Baptista de Medeiros , advogado, abrindo seu escritório
para seu cliente, e depois outro, e depois mais outro.
Ao
meio dia ele desce para um café na padaria do amigo Amaro,
que fica impressionado em ver o "antigo funcionário" tão
elegante em seu primeiro terno.
Mais
dez anos se passam, e agora o Dr. Agenor Baptista, já com uma clientela
que mistura os mais necessitados que não podem pagar, e os mais abastados
que o pagam muito bem, resolve criar uma Instituição que oferece aos
desvalidos da sorte, que andam pelas ruas, pessoas desempregadas e
carentes de todos os tipos, um prato de comida diariamente na hora do
almoço.
Mais
de 200 refeições são servidas diariamente naquele lugar que é
administrado pelo seu filho , o agora nutricionista Ricardo Baptista.
Tudo
mudou, tudo passou, mas a amizade daqueles dois homens, Amaro
e Agenor impressionava a todos que conheciam um pouco da
história de cada um.
Contam
que aos 82 anos os dois faleceram no mesmo dia, quase que a mesma hora,
morrendo placidamente com um sorriso de dever cumprido.
Ricardinho,
o filho mandou gravar na frente da "Casa do Caminho", que seu
pai fundou com tanto carinho:
"Um dia eu tive fome, e você me alimentou. Um dia eu estava sem esperanças e você me deu um caminho. Um dia acordei sozinho, e você me deu Deus, e isso não tem preço. Que Deus habite em eu coração e alimente sua alma. E, que te sobre o pão da misericórdia para estender a quem precisar!!!" "
"Um dia eu tive fome, e você me alimentou. Um dia eu estava sem esperanças e você me deu um caminho. Um dia acordei sozinho, e você me deu Deus, e isso não tem preço. Que Deus habite em eu coração e alimente sua alma. E, que te sobre o pão da misericórdia para estender a quem precisar!!!" "
(História
verídica)
Nunca negue um pedaço de pão!
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
NÃO NASCEMOS PRONTOS
Nossa indicação de leitura é um texto de Mário Sérgio Cortella, publicado na Folha de São Paulo, em 28/09/2000.
Apesar de 14 anos terem se passado, o texto é tão atual, que parece ter sido escrito ontem... boa leitura!
"O sempre surpreendente Guimarães Rosa
dizia: "O animal satisfeito dorme". Por trás dessa aparente obviedade
está um dos mais profundos alertas contra o risco de cairmos na monotonia
existencial, na redundância afetiva e na indigência intelectual. O que o
escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e energia
vital toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como as coisas
já estão, rendendo-se à sedução do repouso e imobilizando-se na acomodação.
A advertência é preciosa: não esquecer
que a satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa margem para
a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o
desdobramento. A satisfação acalma, limita, amortece.
Por isso, quando alguém diz
"Fiquei muito satisfeito com você" ou "Estou muito satisfeita
com seu trabalho", é assustador. O que se quer dizer com isso? Que nada
mais de mim se deseja? Que o ponto atual é meu limite e, portanto, minha
possibilidade? Que de mim nada mais além se pode esperar? Que está bom como
está? Assim seria apavorante; passaria a ideia de que desse jeito já basta.
Ora, o agradável é alguém dizer "seu trabalho (ou carinho, ou comida, ou
aula, ou texto, ou música etc) é bom, fiquei muito insatisfeito e, portanto,
quero mais, quero continuar, quero conhecer outras coisas".
Um bom filme não é exatamente aquele
que, quando termina, nos deixa insatisfeitos, parados, olhando, quietos, para a
tela, enquanto passam os letreiros, desejando que não cesse? Um bom livro não é
aquele que, quando encerramos a leitura, permanece um pouco apoiado no colo e
nos deixa absortos e distantes, pensando que não poderia terminar? Uma boa
festa, um bom jogo, um bom passeio, uma boa cerimônia não é aquela que queremos
que se prolongue?
Com a vida de cada um e de cada uma
também tem de ser assim; afinal de contas, não nascemos prontos e acabados.
Ainda bem, pois estar satisfeito consigo mesmo é considerar-se terminado e
constrangido ao possível da condição do momento.
Quando crianças (só as crianças?),
muitas vezes, diante da tensão provocada por algum desafio que exigia esforço
(estudar, treinar, emagrecer etc), ficávamos preocupados e irritados, sonhando
e pensando: Por que a gente já não nasce pronto, sabendo todas as coisas? Bela
e ingênua perspectiva. É fundamental não nascermos sabendo nem prontos; o ser
que nasce sabendo não terá novidades, só reiterações. Somos seres de
insatisfação e precisamos ter nisso alguma dose de ambição; todavia, ambição é
diferente de ganância, dado que o ambicioso quer mais e melhor, enquanto que o
ganancioso quer só para si próprio.
Nascer sabendo é uma limitação porque
obriga a apenas repetir e, nunca, a criar, inovar, refazer, modificar. Quanto
mais se nasce pronto, mais se é refém do que já se sabe e, portanto, do
passado; aprender sempre é o que mais impede que nos tornemos prisioneiros de
situações que, por serem inéditas, não saberíamos enfrentar.
Diante dessa realidade, é absurdo
acreditar na ideia de que uma pessoa, quanto mais vive, mais velha fica; para
que alguém quanto mais vivesse, mais velho ficasse, teria de ter nascido pronto
e ir se gastando...
Isso não ocorre com gente, mas com
fogão, sapato, geladeira. Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce
não-pronta e vai se fazendo. Eu, no ano 2000, sou a minha mais nova edição
(revista e, às vezes, um pouco ampliada); o mais velho de mim (se é o tempo a
medida) está no meu passado, não no presente.
Demora um pouco para entender tudo
isso; aliás, como falou o mesmo Guimarães, "não convém fazer escândalo de
começo; só aos poucos é que o escuro é claro"..."
MARIO SERGIO CORTELLA, filósofo, professor da
PUC-SP e autor de "A Escola e o Conhecimento: Fundamentos Epistemológicos
e Políticos" (ed. Cortêz/ IPF), entre outros, escreve aqui uma vez por mês
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq2809200027.htm
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